terça-feira, 13 de janeiro de 2015

1769 - Soneto para o criado-mudo

Baixinho, ao lado da cama,
O criado-mudo é mordomo
Nesse modestíssimo domo
Que é meu quarto. A gama

De serventias já o conclama
A braço direito e eu o tomo
Como tal. Ao lado, embromo,
Abro gavetas e se esparrama

A tranqueirada que ele guarda.
Objeto os quais a salvaguarda
Não teria melhor. O impasse

Seria, se por mera leviandade,
De mudo, da minha intimidade
Esse baixinho atrevido falasse.

Francisco Libânio,
16/08/14, 1:20 PM

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

1768 - Soneto para o armário

E se indignou, com razão, o armário!
De repente, do nada o mundo o acusa
De guardar, além da roupa que se usa,
Um pessoal do tipo mais atrabiliário,

Preconceituoso, mentiroso e ordinário
Usando o preconceito como escusa.
Defendeu-se a dizer que gente obtusa
Não caberia nele. Que só o vestuário

E a bugigangada, tranqueira em geral
Tinha lugar. Pois lhe pediram o trivial,
Que abrisse as portas e essa questão

Estava resolvida. O armário ia se abrir
Quando cristalinamente pôde se ouvir
Vir de dentro um grito uníssono de não.

Francisco Libânio,
15/08/14, 12:01 PM

1767 - soneto para a fita cassete

Mais esquecida e empoeirada,
A fitinha com suas gravações
Perde-se feia em recordações
E na palavra que dela derivada.

Porque rec era a tecla apertada
Para gravar nela suas canções
Prediletas. Aquelas apreensões
Pela música querida ser tocada

No rádio. E a tal coisa de giga,
De tera não havia. Coisa antiga,
Lado A, lado B e pronta a meta.

Pior é que hoje ninguém saca
A liga que o passado emplaca
Entre essa fitinha e uma caneta.

Francisco Libânio,
14/08/14, 12:25 PM

1766 - Soneto para o walkman

O walkman olha esse povo escutando
Música pelos fones de seus celulares
Sem invejar a onda desses seus pares
E menos com eles assim, em bando.

Ele deseja ser duradouro o comando
Dos polivalentes e que nesses lugares
Onde eles são um dos fortes pilares
Da diversão haja sinal mais que brando,

Mas potente sem nunca deixar na mão
Os ouvintes. Só a música era intenção
Na sua época. Hoje é mais que o som,

É comunicação, notícia e a futilidade
Em geral. O walkman não tem saudade,
Ele aproveitou os dias em que foi bom.

Francisco Libânio,
13/08/14, 8:44 PM

1764 - Soneto para o toca-discos

Quando CDs eram o último grito
E internet coisa utópica e futurista,
O toca-discos fazia da sala pista
E sua popularidade era o quesito

Que fazia dele à época esse mito.
Reproduzia música de um pianista
Clássico ao rock do progressista,
De Abbey Road indo até o infinito

Musical. O disco era o tal detentor
Do som e a agulha a heroína maior
A tirar dos sulcos o dom da melodia.

Mas manuseada pelo descuidado,
A agulha era vilã. O disco riscado
Tirava de um tesouro toda a valia.

Francisco Libânio,
09/08/14, 11:25 AM

1765 - Soneto para o toca-CD

Ele chegou mandando a vitrola
Para o limbo e para o antiquário
E ficou tempo sendo autoritário,
O DVD da música, pois lá rola

Som com qualidade. Ele, gabola,
Não viu que havia um modo vário
De música no ambiente planetário
Que é a Internet e nem viu a sola

Que o chutou. CDs caros demais,
Mais fácil ir por vias pouco morais
E gravar a música no computador.

Pobre toca-CD, relegado ao asilo
Dos aparelhos, fez um pior vacilo
E agora acompanha o antecessor.

Francisco Libânio,
13/08/14, 12:21 PM

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

1763 - Soneto para o radinho de pilha

Sem pilha e, por isso, já afônico
Há algum tempo, o rádio de pilha
Orgulhoso por portar tanta milha
Vivida e tanta história, canônico,

Tinha vaticinado seu anacrônico
Existir. Não o revoltava a trilha
Sonora atual. Toda essa maravilha,
Sabia bem, e o mix do sinfônico

E o tecnológico tinha o seu dedo.
Afirmava sem vergonha ou medo
A quem quisesse ouvir descrente

Que nesses smartphones pela aí,
Nada há novo. “Não me surpreendi!
Pois eu fui o smart de antigamente!”

Francisco Libânio,
08/08/14, 12:11 PM

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

1762 - Soneto para o DVD

Quando era a novidade, som estéreo,
Imagem perfeita e quase a realidade,
O DVD vivia com ares de autoridade
Máxima. Sobre ele todo dito era sério,

Toda crítica, imperdoável despautério,
Ele adorava viver como celebridade,
Amava ser referência à modernidade,
Mas, ingênuo, não via fim do império

Que vivia. Obsoleto é o vídeo-cassete,
Dizia. Fitas, peso. Não me acomete!
Jurava. A tecnologia, sempre andando

Pra frente, não ouviu, mas, clemente,
Dá ao DVD uma sobrevida plangente,
Mas o derrubará sem prévio comando.

Francisco Libânio,
06/08/14, 3:33 PM

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

1761 - Soneto para o vídeo-cassete

De sua caixa, o vídeo cassete ouvia
A alegria da família e o som cristalino
Do DVD, seu sucessor mais genuíno
No mister que é proporcionar alegria,

Diversão. Lembrou quando se reunia
A criançada. O período régio, joanino,
Maravilhoso, mas seguiu seu destino
E foi encaixotado, mas ele já sabia:

Rei morto, rei posto, essa regência
Do DVD acabaria em obsolecência
Igual, seriam vizinhos nesse armário.

De lá pensava. E ele não grava nada!
Era essa felicidade triste e resignada
Que lhe calava a dor de ser inutilitário.

Francisco Libânio,
06/08/14, 12:05 PM

domingo, 4 de janeiro de 2015

1760 - Soneto para a televisão

Se antes de imagem branca e preta,
A televisão era uma caixa, a imagem
De pouca nitidez era uma mensagem.
Tecnologia não fica só nessa faceta

Antiga. A tevê será um projeto beta
Pois o outro terá bem mais vantagem.
Depois veio a colorida e a decolagem
Tecnológica pedia mais. Aí a muleta

Do controle remoto, desliga do sofá,
Depois a tela grande, a maior que há.
E depois outros artifícios pra dar liga.

Quem curte vê pela tela todo esporte,
Conecta, ouve música que o conforte
E como a TV de outrora fica a barriga.

Francisco Libânio,
05/08/14, 12:36 PM

1759 - Soneto de intima ação

Por que a cama precisa ser aberta
E os atos nela serem publicados?
Visitantes a saber se são cotados
Ou querendo oferecer uma oferta

Para estar nela? Pois, está deserta
Minha cama, eu em todos os lados
E assim espero seguir. Mais dados
Não serão dados. Não me desperta

Interesse o que dizem aí das alheias
Camas e se estão vazias ou cheias.
O que se faz, então, não é respeito

Meu e nem o que faço lhe diz caso.
Mando a merda ou mais extravaso
Com quem exorbita sobre meu leito.

Francisco Libânio,
04/08/14, 12:25 PM

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

1758 - Soneto quadrúpede

Porque evolução visa uma melhora,
Evoluir em algo é andar para frente
E o Homem com a teoria em mente
Agarrou-se à ideia e dali foi embora.

O animal de quatro não se aprimora,
Não raciocina e só é dado inteligente
Se adestrado e repetir maquinalmente
Um truque, dois, três e a encantadora

Habilidade distingue o bicho de tantos.
Mas com quatro patas e esses mantos
De selvagem e de animal não evoluído,

Ele fica lá na selva sem adestramento,
Vê o homem evoluído e o pensamento
É: É tão inteligente e subdesenvolvido.

Francisco Libânio,
02/08/14, 11:05 AM

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

1757 - Soneto bípede

Andar com os membros inferiores,
Evolução dada nos seres animais
Foi fator primo pra, dos irracionais,
Separar os primatas e posteriores

Características definiram pendores
Que extravasavam coisas normais
Dos bichos dando a esses o mais
Acabado dom: Dotes intelectuais!

A esses seres o homem superou,
Sua inteligência mais diferenciou,
Foi pra ele e pros animais o azar.

No intelecto, ele se fez um animal
Da pior qualidade e depurou o mal
Tendo a inteligência para o escorar.

Francisco Libânio,
01/08/14, 1:09 PM